Temos todos um futuro imprevisível mas, até aí, nada de novo: o mundo é VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) desde os dias de nossos ancestrais, e é um desperdício pensarmos que não temos, coletiva ou individualmente, papel ativo no direcionamento desse futuro.
Nos escondemos detrás da cortina de um destino assustadoramente incontrolável; e com isso adiamos escolhas, na esperança de obtermos mais dados. Deixamos de viajar e de construir. Postergamos a decisão de ter filhos. Vestimos óculos que só nos mostram o de costume, supondo paradoxal controle sobre uma astronave que, como cantavam Toquinho e Vinícius, não tem tempo nem hora de chegar.
Já reparou em como os inovadores encaram a incerteza? Tornam-se confortáveis com o desconhecido, e decidem o que fazer quando não conhecem algoritmos de estrada, antes o contrário: entendem que o próprio fato de tomar a decisão é no mínimo caminho para estabelecer prioridades, e que é possível avançar na direção certa mesmo fazendo, momentaneamente, escolhas erradas.
Já pensou se, por curiosidade, revistássemos as ‘previsões de época’ e comparássemos com o que de fato ocorreu? Veríamos que é quase impossível de se prever o que chamamos de “grandes rupturas”, justamente porque elas nada mais são que recompensa orgânica para quem — não importa a área — mergulha no desconhecido e investe tempo e recursos conectando insight colaborativo com incremento aplicado e útil.
Enquanto não nos proporcionarmos tempo para aprender que machine learning não significa robôs dominando a Terra, que inteligência artificial é tão ‘coisa de futuro’ quanto a Netflix lhe sugerindo um título com base nos seus hábitos, e que você pode conviver com uma pessoa que não vota no seu partido político, continuaremos a confundir disciplina com rigidez, obstinação com obsessão, e foco com estreitamento.
E por que nos recusamos a aceitar que o futuro não vem do passado, e sim do que estamos construindo exatamente agora? Talvez já esteja na hora de nos darmos conta de que não ter tantas certezas é a única chance de sermos um dia surpreendidos, ou mesmo de surpreendermos alguém.