Quando Steve Jobs errou (e Walt Disney acertou)

O Segway, uma espécie de hoverboard com guidão, prometia alcançar mais do que a própria bicicleta conseguira em duzentos anos: como solução para o caos do trânsito dos Estados Unidos à China, venderia um bilhão antes mesmo de percebermos que, ao contrário do que nos ensinaram, mesmo inovadores como Steve Jobs cometeram enganos tão comuns quanto os nossos.

Há um dilema na prática de inovação, facilmente transportável para o campo das relações humanas. É representado por correntes complementares, mesmo que baseadas em movimentos polares: enquanto a “Escola do Vale do Silício” sugere a lógica do “fail fast”, a “Escola de Wharton” defende a procrastinação como mais favorável ao sucesso nos negócios. 

Procrastinar expõe as vantagens do processo de incubação sobre o vício da pressa; na essência, uma sorte de ansiolítico, que nos previne de fazermos hoje algo que talvez não precisássemos fazer amanhã. “Pivotar”, em contrapartida, evita que fracassemos a custos altos demais — nos separamos antes de ter os filhos. 

Somos capazes de decidir melhor se estamos dispostos a abrir mão do “controle das variáveis”. Um hábito cuja máscara de planejamento sufoca a intuição; e que se alimenta, para o cedo ou para o tarde, da auto-suficiência de nosso orgulho de abrir mão: se acende uma falsa luz e desabamos na futurística das loterias quando nos socorremos da ilusão das certezas, e não de nossa alquimia de experiência e coragem. 

Walt Disney acertou quando levou sete anos para finalizar sua “Branca de Neve”, um sucesso procrastinado até o orçamento estourar seis vezes e sua casa ser hipotecada — mas o mercado estar recuperado da crise de 1929, e a ideia pronta para tornar-se um clássico. Steve Jobs ignorou o alarme de Jeff Bezos de que o Segway era apenas uma história bem vendida demais — e isso antes do tombo de George W. Bush diante das câmeras.

E por que, entre dois ícones, um soube procrastinar e o outro (que logo reinventaria a indústria do entretenimento) vacilou em pivotar? Porque o mundo, setenta anos depois, agora girava em transitoriedade líquida. Um tempo de olhar e escutar, com variáveis demais para manter sob controle.