Inovadores criam suas próprias ondas, e a rede de cafés Starbucks expandia para o Japão, em 1985: era a primeira incursão internacional da marca e, na noite anterior à inauguração, Howard Schultz acertava detalhes com o investidor parceiro em Tóquio.
A empresa de pesquisas contratada pela Starbucks arriscara que a entrada no Japão seria um desastre: a política de não permitir fumar nas lojas, os custos imobiliários nas alturas e a inexistência de uma cultura takeaway tornaria tudo impossível — só que o empreendedor confiava no que criara. Mas a Starbucks japonesa seria inaugurada em agosto: num sol de trinta e cinco graus celsius, e umidade relativa do ar próxima a 100 por cento.
Péssima ideia, concluiu ele na noite anterior à inauguração: a Starbucks ainda não vendia cafés gelados, e ele pediu ao intérprete que traduzisse, em plena véspera, sua decisão ao investidor japonês: vamos esperar dois meses, até arrefecer o calor. Estranhando a reação sorridente, Schultz foi conferir, e depois soube que, com medo de dizer tais palavras, o intérprete as traduziu por: nossa inauguração amanhã será um sucesso. Na manhã seguinte, com cobertura da rede CNN, os japoneses faziam uma fila que dava duas voltas no quarteirão.
Nolan Bushnell, fundador do Atari, criou no final dos anos 1960 um jogo que chamou de Pong. Colocado em máquinas de bares, era um dos primeiros a ser disputado em duplas. Estamos no “Verão do Amor”, e jogar Pong em época de “liberação feminina” passou a servir como pretexto para as mulheres pela primeira vez abordarem homens em bares. Fato paradoxal e curioso: recentemente, o fundador do Atari teve cancelada sua indicação ao prêmio Pioneer na World Developers Conference, em San Francisco. Motivo? Acusações de cultura sexista nos anos 1970, do tipo nomear os jogos em homenagem a funcionárias bonitas, convidadas para reuniões em Hot Tubs.
Trata-se, é verdade, de inovadores que criaram suas próprias ondas. Mas o líquido se molda à forma, o que era costume ontem talvez não seja cultura amanhã, e visionários sabem que o sucesso é apenas um indicador de que as coisas estão, momentaneamente, dando certo. Momentaneamente.